segunda-feira, 1 de julho de 2013

Do tempo que passa

Semana passada estava organizando meus arquivos digitais e encontrei fotos "antigas", de 2 anos atrás. F, minha filha mais velha, com as roupas que L., minha bebê mais nova, está usando agora.

Quando falamos de crianças, o passado e o tempo são tão relativos. Passado parece algo tão distante, mas nas fotos ele estava tão perto. 

E olhando minha pequena, parada, de pézinho, com os olhos vidrados na frente da tv, meu coração se enche todo ao pensar que há tão pouquinho tempo atrás ela era alisada dentro da minha barriga.


sexta-feira, 8 de março de 2013

terça-feira, 5 de março de 2013

O organismo casa

Um mês depois de F. nascer, minha diarista avisou que não poderia mais me atender pois tinha arranjado um emprego fixo.

Fiquei preocupada se conseguiria dar conta de cuidar do bebê e da limpeza da casa. Nos meses seguintes, passei experimentando algumas diaristas, até que fiquei com uma que trabalhou anos para uma amiga, de confiança. Mas todas as coisas tem seu lado bom e ruim. Pelo longo relacionamento, ela se sentia confortável de fazer as coisas como bem queria, não vinha num dia e chegava no outro sem avisar... além disso pedia um produto de limpeza para cada cômodo da casa e no final da faxina - mesmo com os pedidos de utilizar menos, diluir - a casa estava aquele cheiro forte dos produtos. 

O bebê, pequeno, chorava quando queria dormir e mamar - seu único modo de comunicação - e ainda eu escutava que o bebê chorava demais.

Dispensei após 3 meses e desde então nunca mais tive ninguém estranho trabalhando dentro de casa.
Me organizei para encaixar a faxina dentro da semana de trabalho e aproveitar os finais de semana em família.

E hoje, passando um pano úmido no chão, pensei o quanto é importante estar em contato com a sujeira da casa. Deixar na mão de outra pessoa é como evacuar no banheiro e dar a descarga sem olhar para os próprios dejetos. Eles falam muito da sua saúde. Aqui, fala da saúde da família como um todo. A cada semana que limpo a casa, consigo ver o que é necessário, o que posso descartar, pensar em outras dinâmicas de se relacionar com o lar: mudar de lugar o gaveteiro em um lugar que fique mais prático, entre outros.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Um período de tempo - um tempo infinito.



Considero dos 10 meses de idade até mais ou menos 1 ano e meio um tempo que parece ser eterno enquanto dure: o tempo do cansaço. É o tempo que a criança engatinha, se arrasta - passar pano no chão todos os dias - se levanta, se apóia - recolher as toalhas de mesa e qualquer objeto que se encontre na beira dos móveis - anda, caminha - cuidar dos degraus, beiras de mesas, de um dia para o outro resolve que não quer mais comer papinhas - e corremos para o fogão. Mamadas noturnas acordadas aos berros, somada à filha mais velha que está no desfralde noturno te chamando para levá-la ao banheiro... Momento em que parece que não há luz no fim do túnel. E de repente, quando nos damos conta, tudo passou e não nos lembramos mais como era; desajeitadamente pegamos no colo o filho recém nascido da amiga por não lembrar do pescoço mole, não sabemos mais o que fazer com refluxos, como foi que ele se sentou pela primeira vez...


sábado, 9 de fevereiro de 2013

. desenho . sereia . sentido .

quando criança, eu era fascinada por sereias. adorava desenhá-las à exaustão. eu e uma prima passávamos as férias juntas, criando caudas de tecido para nossas bonecas e colando lantejoulas em desenhos no papel, para dar mais corpo às escamas da mulher peixe. ficou colada a imagem de sher vestida dessa maneira no filme e o tal desenho com a tetê espíndola. 

o que será que as crianças vão guardar na memória e acessar mais tarde? não falo dessa aproximação por nostalgia apenas, mas acho que muito dessas lembranças são também o que ao longo dos anos foi ajudando a construir sentido.

o desenho, as sereias, todos os momentos que recordo, o que se destaca magicamente das situações cotidianas; quando conseguimos prestar atenção, depois é apenas uma brincadeira de ligar os pontos e uma história de vida de configura. mesmo que seja bem diferente das biografias super coerentes que existem nos livros - e normalmente é. as sequências de ações que levam uma coisa à outra,  dificilmente vêm numa ordem linear. aparecem e somem e gritam e voltam e se pesca algo aqui ou ali. parece abstrato esse desenho, mas abstratas são as formas - se pudermos colocar assim, da nossa subjetividade.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Reflexo.

Lua sobre a água.
Sente-se sozinho.

Se as águas estiverem plácidas, a Lua será perfeitamente espelhada. Se nos aquietamos, podemos espelhar o divino perfeitamente. Mas, se participamos unicamente das atividades frenéticas dos nossos envolvimentos diários, se buscarmos impor nossos próprios esquemas à ordem natural e se nos deixarmos absorver por visões autocentradas, a superfície de nossas águas se torna turbulenta. Então, não podemos ser receptivos ao Tao.

Não há nenhum esforço que possamos fazer para nos aquietar. A verdadeira quietude vem naturalmente de momentos de solidão, nos quais permitimos que nossas mentes se assentem. Assim como a água busca o seu próprio nível, a mente gravitará rumo ao sagrado. A água turva irá clarear se permitirmos que permaneça imperturbada, assim como a mente se tornará mais clara se permirtirmos que permaneça quieta.

Nem a água nem a lua fazem esforço algum para conseguir um reflexo. Da mesma maneira, a meditação será natural e imediata.

Do livro Tao, meditações diárias.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Caminho do meio.

"There is no female Mozart because there is no female Jack the Ripper."
Camillie Paglia

Nós, mulheres, somos o caminho do meio.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Flor do Deserto


Ontem assisti ao perturbador 'Flor do Deserto'. O filme conta a história verídica de Waris Dirie, somaliana que sofreu a circuncisão feminina aos 3 anos. Aos 13 anos, vendo a irmã obrigada a aceitar o casamento de conveniência e desejando algo diferente para si, foge para a cidade em busca da avó. Andando dias no deserto sem ter o que beber e comer e escapando de um estupro ao tomar carona a caminho da cidade, é recebida pela avó como um ser especial por ter resistido a tantas provações e enviada para Londres para trabalhar como faxineira de sua tia, casada com um embaixador.

Anos passados, é descoberta pelo fotógrafo Terry Donaldson e se torna uma grande modelo de moda. Sendo então conhecida, passa a lutar contra a mutilação feminina e ao direito da mulher em existir de forma plena.

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E então, hoje pela manhã, ainda perturbada, recebo o seguinte comentário do meu marido: "Agora você sabe como me senti quando você furou a orelha de F.". Indignada profundamente, respondi quase aos berros "Isso não tem nem comparação!!""É, mas você não deu escolha a ela, e sou completamente contra a todas essas 'convenções' da sociedade".

Acabei me calando. De fato, não dei escolha a ela. Furei porque é uma menina. Tenho uma amiga que não tem as orelhas furadas porque ela acredita nos pontos vitais do corpo, como na acupuntura. E se F. se sentir violada caso ela também abrace esse estilo de vida?

Na Somália e em países islãos, a prática da circuncisão é realizada por acreditarem que a mulher se torna pura e só assim pode se casar, as que não fazem são consideradas "prostitutas". E pela pobreza desses países, os casamentos arranjados são uma forma de sustento para as famílias, por isso tão importante encontrar um homem que aceite suas filhas.

Fui pesquisar sobre essa questão na internet. E vi que apesar da coragem de Waries denunciar essa prática, pouco se fez a respeito de evitar essa violência. Afinal, o que são mulheres circuncisadas nos países mais pobres da Africa?

Sei que pouco adiantaria eu postar no facebook minha indignação: as pessoas curtiriam, apoiariam, mas nada de real e prático seria feito. Por isso escrevo este post. Porque se essa realidade é tão distante para nós, vamos tentar enxergar com olhos mais abertos para nós mesmos, assim conseguimos nos sensibilizar. Será que também não submetemos nossos filhos a 'mutilações' psicológicas, desejando que se tornem pessoas "bem-sucedidas", competitivas, podamos a liberdade de escolha deles em ações sutis e aparentemente inocentes.

Se queremos um mundo diferente, temos que começar a transformar a partir de nós mesmas.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por um fio

Por um fio, da série Fotopoemação, 1976/2010 
Ana Maria Maiolino
ampliação digital de fotografia em preto e branco

52 x 79 cm


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Neurose


  

Há não muito tempo atrás, para alguém ver minhas fotos de infância, a pessoa tinha que estar sentada na sala da minha casa, abrir o armário (que era obstruído por uma mesa, eu tinha que arrastar a mesa para poder abrí-lo), pegar o álbum e - geralmente - eu acompanhava o folhear das páginas, fazendo as vezes da legenda das fotos.

Quando dou um scroll pelo facebook e vejo as fotos dos filhos que meus amigos postam, algumas me deixam em pânico. O filho fazendo o seu primeiro pipi sentado na privada, a filha tomando banho, os brinquedos ganhados no aniversário, o evento na escola. E quem está folheando todos esses álbuns, será que temos mesmo o controle de tudo isso? Acompanho blogs de mães, está tudo ali descrito, a primeira papinha, quando deu o primeiro passo... coisas que só pessoas muito próximas, que frequentavam a minha casa, sabiam de mim. Eu sinceramente não sei o efeito para os filhos de nascerem e crescerem com essas "intimidades" tão expostas.

Sou uma pessimista.

domingo, 7 de outubro de 2012

. dia, mês, ano .












1 ano. mesmo prestando atenção, tem coisas que o cotidiano não nos deixa perceber. aniversário, rito de passagem: um ano se passou. o que aconteceu, o que mudou, o que ficou. claro que eu percebi que as roupinhas já não cabiam mais. sentou. levantou. aumentou a quantidade de comida - e mudou o tipo dela. deu passos. andou. se desloca pra onde quer. chora mais. chora menos. dorme. reclama. sorri e gargalha. brinca. imita e testa nossas reações. 

coisa simples em casa. era pra ser nano festa. como ninguem confirmou presença, achei que viriam os parentes, pouca gente. mais de quarenta pessoas no apartamento. k. já tinha aprendido a bater palmas, então quando cantaram 'parabéns', abriu um sorriso e deu gritos batendo as mãos. uma verdadeira festa.

o tempo da criança é uma martelada nas nossas percepções. tudo é marcado. quando uma coisa nova acontece, é sempre uma ficha caindo. a primeira vez que. as coisas todas que fazemos sem perceber pra eles é um grande desafio. e vencidos, determinam em ações as metáforas das nossas próprias conquistas.

no dia-a-dia ainda não consegui me adaptar com a rotina casa, crianças e outras atividades. tudo uma grande bagunça. as dúvidas, que antes eram muitas, continuam existindo. mas mais amigas se tornaram mães, outras famílias em contato, e todas as figurinhas trocadas foram acalmando tanta ansiedade. bem mais calma, esse estado de espirito tem deixado mais leves os dias atarefados de dormir tarde e acordar cedo.

tão cansada. tão feliz. vai entender.